Transição energética: mudar para ficar onde se está?

Por Paulo Pedrosa e Adrianno Lorenzon

Somos 8 bilhões de pessoas vivendo na mesma atmosfera, mas afetados de forma diferente pela mudança climática e pela maneira com que vamos lidar com ela.

Paradoxalmente, os grandes eventos climáticos, ondas de temperatura extrema e chuvas intensas, entre outros, afetam desproporcionalmente os mais pobres, que são justamente os que consomem pouca energia e que menos contribuem para a emissão de gases de efeito estufa. E são as economias em desenvolvimento que poderão ser duplamente prejudicadas com as estratégias que vêm ganhando impulso para a transição energética e que podem concentrar o desenvolvimento nas maiores economias do planeta.

Há alguns anos, por ocasião do acordo de Paris, houve a expectativa de um movimento que combinaria objetivos planetários de combate ao aquecimento global e de redução das desigualdades. A solução para o clima envolveria as economias dos países em desenvolvimento, por exemplo, na captura de carbono em projetos com soluções baseadas na natureza e na produção de biocombustíveis que poderiam ser exportados. Seriam atraídos investimentos na produção industrial, associados à baixa emissão de matrizes energéticas favorecidas pela disponibilidade de condições naturais favoráveis de hidrologia, vento, sol, terra e também de mão de obra. E esse movimento poderia ser, em parte, financiado por um mercado global de créditos de carbono, que descarbonizaria o planeta ao mesmo tempo em que o tornaria menos desigual.

No novo cenário global pós-pandemia e conflito entre Rússia e Ucrânia, os sinais são diferentes. Os governos de grandes economias, como Estados Unidos, União Europeia e China, disputam a liderança pelo domínio das cadeias de energia, que é meio caminho andado para se manterem hegemônicos na geopolítica global. Desenvolvem políticas que miram o fortalecimento de suas bases industriais utilizando-se do enfrentamento da questão climática. Dessa forma, procuram garantir segurança energética e resiliência das cadeias produtivas, incentivando localmente as novas tecnologias que farão a transição energética, inclusive, comprometendo a eficiência econômica, através de elevadas exigências de conteúdo local.

Este artigo foi publicado no jornal Poder 360, em 26/03/2023

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