Especial Transição Energética: conheça a experiência da Vale

Pensar no futuro é um grande propulsor das ações de sustentabilidade nas indústrias. Ter o olhar voltado o mundo das próximas gerações passa por tomadas de ação que envolvem uma série de medidas, especialmente por parte do setor produtivo. Investimentos em redução de emissões são os passos iniciais para contribuir nessa jornada. Eletrificar a frota, utilizar energia proveniente de fontes limpas e incentivar parceiros a seguir o caminho da transição energética também são atitudes fundamentais. Confira a seguir a entrevista com Juliana Chagas, Gerente de Comercialização de Energia, Regulação e Mercado na Vale, que explicita a ideia de que é preciso ter compromisso com o futuro e esse compromisso deve fazer parte da empresa.

O que a Vale entende por transição energética, considerando seus projetos?

Entendemos como transição energética o processo de transformação no qual buscamos a redução da emissão de gases de efeito estufa em nossos processos. Essa transformação vai além de garantir um consumo de energia elétrica renovável por nossas operações, mas contempla também a substituição dos demais combustíveis fósseis existentes em todo nosso processo. É pensar diferente em relação ao consumo de energéticos, é pensar diferente em relação à forma como fizemos até então, para garantirmos um futuro sustentável para as próximas gerações.

Quais ações já foram iniciadas?

Em 2019, a Vale anunciou a meta de zerar suas emissões líquidas de carbono até 2050. Para isso, está investindo entre US$ 4 bilhões e US$ 6 bilhões para reduzir em 33% nossas emissões diretas e indiretas (escopos 1 e 2) até 2030. No escopo 1, relativo ao consumo de combustíveis fósseis em suas operações, a empresa vem avançando em soluções inovadoras para eletrificar minas e ferrovias. Atualmente, estão em teste duas locomotivas 100% elétricas em nossos portos em Vitória e São Luís, além de dois caminhões fora de estrada de 72 toneladas a bateria em Minas Gerais e na Indonésia, e cerca de 50 equipamentos de mina subterrânea também elétricos no Canadá.

No escopo 2, relativo à energia elétrica, nossa meta é garantir 100% do consumo de eletricidade a partir de fontes renováveis no Brasil até 2025 e no mundo até 2030. Atualmente, 99% da eletricidade consumida por nós no Brasil vem de fontes renováveis provenientes de ativos próprios ou de contratos de aquisição de energia certificados e auditados.

A autoprodução corresponde, atualmente, a cerca de 70% da energia elétrica consumida no Brasil pela Vale e é proveniente de ativos próprios, como hidrelétricas e plantas eólicas. No País, operamos de maneira própria ou em parceria 10 hidrelétricas, duas plantas eólicas e acabamos de dar início ao nosso primeiro parque solar, o Sol do Cerrado, em Minas Gerais, considerado um dos maiores em operação na América Latina, que, quando estiver em plena operação, em julho de 2023, terá capacidade para produzir energia capaz de abastecer uma cidade de 800 mil habitantes.

Qual o planejamento para o futuro em relação às ações que promovem e visam contribuir com a transição energética?

No curto e médio prazos, temos as ações já iniciadas que comentei anteriormente. A Vale está empenhada no desenvolvimento de novas tecnologias que possam reduzir as emissões de gases de efeito estufa de seu processo.

Temos também uma meta de escopo 3, relativa à nossa cadeia de valor (clientes e fornecedores). Até 2035, estamos comprometidos em contribuir com a redução de 15% das emissões de nossos clientes siderúrgicos e fornecedores.

Acreditamos que a siderurgia, de onde vem 98% das nossas emissões de escopo 3, irá passar por um período de transição energética até a adoção de tecnologias limpas, como o hidrogênio verde. Nossa avaliação é que o gás natural será um componente crucial nesta transição na substituição das rotas tradicionais, que usam carvão e coque, para fornos de redução direta, alimentados por gás natural e produtos metálicos de alta qualidade, que ajudam na redução das emissões.

A Vale está bem-posicionada neste sentido e tem oferecido soluções tecnológicas capazes de ajudar nossos clientes a reduzirem suas emissões. Um deles é o briquete verde, um aglomerado de minério de ferro de alta qualidade capaz de reduzir em até 10% as emissões em fornos siderúrgicos tradicionais, à base de carvão e coque.

Em dois anos, firmamos parcerias visando soluções de descarbonização com mais de 30 clientes siderúrgicos que representam cerca de 50% das emissões do nosso escopo 3.  Recentemente, anunciamos acordos com a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e o Sultanato de Omã para a criação de mega hubs destinados à produção de hot briquetted iron (HBI) e produtos de aço de alta qualidade a partir do uso de briquetes verdes. A produção de HBI será feita em fornos de redução direta, com utilização de gás natural. A estimativa é de reduzir as emissões de carbono em aproximadamente 60% se comparado com fornos tradicionais siderúrgicos, que usam coque e carvão metalúrgico.

Na navegação, já estamos testando grandes navios, com capacidade de 325 mil toneladas, equipados com velas de rotor e com tecnologia de lubrificação a ar, que podem reduzir as emissões de carbono no transporte em até 8%.

Você acredita que o setor produtivo brasileiro já prioriza esse viés da sustentabilidade?

Acredito que sim. As grandes empresas, nossos parceiros, estão todos empenhados nesta agenda. Assim como a Vale, eles têm suas metas de sustentabilidade definidas para os próximos anos. Não há mais espaço para produzir a qualquer custo. Temos todos um compromisso com o futuro.

Com relação ao ambiente internacional, você entende que o Brasil está em um bom patamar de investimentos em transição energética? Ou ainda tem muito a avançar?

Em relação à geração de energia elétrica a partir de fontes renováveis, estamos bem-posicionados, pois temos uma matriz de geração bastante renovável. Em relação aos demais combustíveis, grandes indústrias já se comprometeram com a agenda da sustentabilidade, mas o caminho ainda é longo para o país. A estruturação de uma política de carbono é essencial para o avanço dessa agenda.

Acredita que o Brasil utiliza todo o potencial que tem para promover a transição energética?

O Brasil tem muito potencial para promover a transição energética. Temos uma matriz de geração renovável, com geração hidrelétrica predominante. Temos potencial eólico e solar em abundância. Isso tudo é diferencial para que o país ocupe um papel importante, por exemplo, na geração de hidrogênio verde, tão promissor para a transição energética do mundo.

Voltando ao setor produtivo brasileiro. O investimento realizado pelas indústrias é revertido em diferencial competitivo? Ou é uma tendência que está sendo seguida por todas (ou maioria) e vai gerar um impacto neutro nos negócios?

Investir em transição energética é essencial para o futuro. Não haverá mais espaço para a indústria que não valoriza esta agenda. No caso da mineração, vejo que é uma tendência que está sendo seguida por todos os peers da Vale, com desenvolvimento e investimentos em diferentes soluções. Ou seja, para as grandes empresas esta agenda está se tornando mandatória.

Qual a importância de regular o Mercado de Carbono no Brasil?

É muito importante amadurecer e regulamentar o mercado de carbono. Acreditamos que somente com definições e regras claras teremos um ambiente mais seguro para alavancar os investimentos em projetos de redução de carbono.

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