Especial Transição Energética: conheça a experiência da Randon

A transição energética envolve muito mais do que a busca por energia renovável. Esse processo passa por investimentos em tecnologias e em soluções que permitem o consumo circular, por meio da reciclagem e reutilização de insumos. O Brasil tem um grande potencial, e o setor produtivo vem priorizando cada vez mais as pautas da sustentabilidade. O objetivo maior por trás de todo esse engajamento é o futuro da sociedade, para um mundo melhor para as gerações futuras. Entenda mais sobre o tema na entrevista a seguir com Anderson Pontalti, diretor-superintendente da Fras-le S/A e líder corporativo da área de Saúde, Segurança e Meio Ambiente das Empresas Randon.

O que o grupo Randon entende por transição energética, considerando seus projetos?

Para a nossa empresa, a jornada de transição significa sair de uma energia que hoje é consumida de forma menos balanceada, para uma forma mais balanceada. Ou seja, sair da energia que não é considerada limpa para uma energia assim classificada, ou menos poluidora e impactante ao ambiente como um todo. Nosso objetivo é ser Net de carbono e, para isso, queremos neutralizar ao máximo a energia que extraímos do sistema, da natureza. A energia que nós possuímos e utilizamos em algumas das nossas operações já está no nível de menor emissão de carbono, mas continuamos buscando sempre aquela que é carbono neutra. Essa nossa jornada já começou e está em pleno andamento.

Quais ações já foram iniciadas?

Temos três pilares sólidos no nosso entendimento de redução do consumo energético e de transformação energética: buscar energias limpas; ter uma energia circular cada vez mais otimizada; e desenvolver produtos verdes. Nós já temos duas usinas fotovoltaicas, uma em andamento e outra que será operacionalizada em dezembro. Além disso, temos inúmeros projetos acontecendo para viabilizar outras usinas em nossas unidades no futuro. Estamos realizando também um diagnóstico completo de todo o nosso consumo de energia para entender contratos futuros que possam ser providos de fontes limpas. Indo para o segundo pilar, estamos trabalhando muito a questão de economia circular. Nós temos projetos de coleta de materiais para que possamos reutilizar em nossos processos – principalmente itens fundidos e de fricção. Além disso, temos várias iniciativas dentro das empresas de reutilização de resíduos. O que é resíduo de uma planta, é utilizado na outra. Dessa forma, utilizamos 100% do que é comprado, sem descarte, e trazemos de volta para o processo. Por fim, também focamos no desenvolvimento de produtos verdes, ou seja, materiais que são redutores de emissão de carbono. Produtos mais leves, por exemplo, permitem que nossos veículos transportem mais carga com o mesmo consumo de combustível. A redução de tara é algo que buscamos muito fortemente. Para isso, investimos em tecnologias muito avançadas, utilizando itens compósitos e nanoparticulados. Outro exemplo é o eixo elétrico E-sys e a carreta Hybrid-R, inciativa na direção de carbono net com potencial de redução de mais de 20% do consumo de óleo diesel em uma combinação cavalo e carreta.

Qual o planejamento para o futuro em relação às ações que promovem e visam contribuir com a transição energética?

A Randon declarou investimentos de 100 milhões até 2030 destinados apenas à rubrica de energias renováveis. Em nossa jornada, queremos consumir 50% da energia que consumimos hoje. Isso é uma declaração pública com investimento alocado. Nós também queremos reduzir 40% das emissões de gases de efeito estufa até 2030. Obviamente, à medida que lançamos mais produtos, aumentamos a energia circular, reduzimos o consumo de energia não limpa, conseguindo atingir esse objetivo.

Você acredita que o setor produtivo brasileiro já prioriza esse viés da sustentabilidade?

Eu não consigo afirmar se é uma prioridade para todas as indústrias, mas o que se observa de dois anos para cá é que essa pauta se intensificou em todas as empresas nacionais, relevantes, sérias, formadoras de opinião e puxadoras de tendências. Não existe nenhuma que não esteja falando disso. Eu digo que na Randon essa é uma prioridade, a ponto de termos destinado recursos muito claros e definidos. E eu vejo isso em várias empresas de siderurgia, de petroquímica, de varejo declarando suas prioridades e seus projetos em ESG. Isso é muito positivo para o Brasil e para a humanidade, porque essa pauta é para o nosso planeta.

Com relação ao ambiente internacional, você entende que o Brasil está em um bom patamar de investimentos em transição energética? Ou ainda tem muito a avançar?

Eu tenho a convicção de que o Brasil tem uma imagem distorcida lá fora. Nós temos uma pressão ambiental global muito grande para cuidarmos da Amazônia, que é “o grande pulmão do mundo”. Mas é inevitável dizer que o Brasil tem uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo. Nós temos um parque automotivo relativamente novo, não dependemos de carvão ou de queima de material orgânico para a geração de energia. Apesar disso, temos muito a evoluir. Eu diria que tem uma estrada bastante longa pela frente. Mas eu fico feliz e vejo que o Brasil, pelo menos na iniciativa privada, tem tomado a frente nesse sentido. O setor produtivo está muito engajado e preocupado em fazer sua parte.

Acredita que o Brasil utiliza todo o potencial que tem para promover a transição energética?

Na minha opinião, o Brasil pode ser líder mundial como país que gera e consome energia limpa. A qualidade e a quantidade do vento brasileiro são muito favoráveis para a geração de energia eólica. Eu acho que a substituição de parte da nossa energia de hidrelétrica para a eólica é muito factível pela qualidade de vento e recursos que estão sendo alocados aqui. E a posição solar eu nem preciso dizer, poderíamos ter 100% das nossas casas autônomas. O que falta no Brasil, na minha opinião, é uma verticalização dessa aplicação de recursos. Nós não deveríamos depender de componentes importados para comportar aportes em usinas solares, sejam residenciais ou industriais. Temos condição, como nação, de desenvolver essa tecnologia aqui e fazer com que o investimento não seja tão elevado para o retorno que ele traz. Com um menor tempo de retorno, mais pessoas físicas e jurídicas poderiam investir e, consequentemente, seria mais fácil de acelerar e ser referência global no desenvolvimento de energias limpas no País.

Voltando ao setor produtivo brasileiro. O investimento realizado pelas indústrias é revertido em diferencial competitivo? Ou é uma tendência que está sendo seguida por todas (ou maioria) e vai gerar um impacto neutro nos negócios?

Acredito que ainda é um diferencial competitivo, mas será por muito pouco tempo. No futuro não será uma vantagem competitiva, será algo mandatório. Apesar disso, é importante pontuar que nem sempre os projetos de energias renováveis têm retorno. As empresas são formadoras de opinião e precisam entender sua responsabilidade frente à sociedade. Às vezes não é retorno sobre o investimento, é simplesmente a coisa certa a ser feita. Cuidar do nosso mundo para as gerações vindouras é nossa obrigação como cidadãos, como empresários. Os R$100 milhões que anunciamos não estão endereçados com o retorno sobre o investimento, eles estão endereçados simplesmente para fazer a nossa contribuição sustentável para esse mundo.

Qual a importância da regulamentação do Mercado de Carbono no Brasil?

É muito importante, porque ao regular você dá clareza sobre o retorno que a empresa terá. A regulação é o que dá segurança para o investidor tomar suas decisões. À medida que esse mercado estiver regulado, a quantidade de investimento nessa direção vai aumentar substancialmente. Obviamente tem que se regular da maneira correta, viável e lógica. Mas a expectativa é de que o nível de investimentos nesse sentido cresça muito à medida em que as regras estejam claras.

 

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