A transição energética passa por diversos conceitos e temáticas, desde a neutralização de emissões de gases de efeito estufa até a adoção de matrizes elétricas mais limpas. E a indústria brasileira acompanha esse movimento. Metas e compromissos de curto, médio e longo prazos norteiam o planejamento cada vez mais. E o objetivo é similar: promover uma economia de baixo carbono em prol do meio ambiente e consequente qualidade de vida. Nesta edição, quem compartilha a experiência neste cenário é Beatriz Sobreira, Gerente Sênior de Estratégia e Sustentabilidade da Novelis:
O que a Novelis entende por transição energética, considerando seus projetos?
Esse é um assunto que estamos vivendo muito na Novelis. Quando falamos de transição, estamos falando de conversão. O nosso entendimento é o de que precisamos converter uma energia que não é renovável – principalmente energia com base fóssil – para uma energia renovável, que vai garantir uma sustentação capaz de neutralizar as nossas emissões em algum momento. Ou seja, o processo de transição passa pela conversão. A empresa adota novas tecnologias para migrar de uma energia que não é tão limpa para um processo de utilização de energia limpa. Nesse sentido, quando falamos de transição, precisamos lembrar dos compromissos assumidos pela Novelis. Nós temos algumas iniciativas de longo prazo que são mais do que objetivos. São compromissos que assumimos com o nosso País, com o nosso planeta, que é tornar a Novelis uma empresa “Net Zero”, com neutralidade de carbono até 2050 – ou antes disso.
Quais ações já foram iniciadas?
A principal ação que fizemos foi assumir esse compromisso. Além da neutralidade de carbono, também voltamos nossas iniciativas para ações que priorizam o meio ambiente, a diversidade e a inclusão, colocando em prática e vocalizando a pauta de ESG nas nossas operações. No que se refere aos projetos de transição energética, elaboramos um roadmap que nos guiará em direção ao nosso objetivo de 2050. Um exemplo é a redução de 30% da nossa pegada de carbono até 2026, o que chamamos de compromisso intermediário. Em resumo, esse mapa que estamos traçando reforça o nosso modelo atual. A Novelis já recicla há muitos anos. Nós temos um compromisso muito forte com a reciclagem, o que fortalece o nosso modelo de economia circular. Essas ações se unem a outras iniciativas projetadas para serem alcançadas até 2026, como a meta de reduzir em 10% o nosso consumo de energia, em 20% a produção de rejeitos e 10% na intensidade do uso da água. Essas são algumas das ações planejadas e que contribuem para o nosso objetivo de descarbonização.
Você acredita que o setor produtivo brasileiro já prioriza esse viés da sustentabilidade?
Eu acredito que sim. Temos visto não só as grandes empresas, mas também as médias e pequenas empresas trazendo a agenda de ESG para dentro do seu dia a dia. A Novelis tem uma cadeia que vem da reciclagem, então trabalhamos com pequenas e médias empresas e percebemos que essa pauta de ESG está permeando toda a cadeia produtiva industrial. Existem grandes empresas que fazem compromissos de curto, médio e longo prazo dentro dessa agenda de sustentabilidade e ESG como um todo. E tem empresas que estão olhando mais para curto e médio prazo e ainda não estão se arriscando a fazer esses compromissos mais distantes.
Com relação ao ambiente internacional, você entende que o Brasil está em um bom patamar de investimentos em transição energética? Ou ainda tem muito a avançar?
Com certeza o Brasil é um benchmarking quando a questão é transição energética e energia limpa. O que me leva a falar isso são, principalmente, os dados do governo federal que apontam uma capacidade instalada de energia elétrica muito grande para fonte eólica. A nossa matriz energética, mais especificamente quando falamos de usinas eólicas, passou de 1 GW para 20 GW de potência em 2021. O Brasil vai subindo nesse ranking mundial e a nossa posição vai se tornando mais sólida. Em 2021, alcançamos o sexto lugar de capacidade total instalada de energia eólica onshore. Estamos em um processo de crescimento que é diretamente impactado por todos os investimentos em tecnologia e isso está garantindo ao Brasil uma nova posição nesse cenário internacional.
Acredita que o Brasil utiliza todo o potencial que tem para promover a transição energética?
Em termos de potencial, acho que temos um cenário que vem se expandindo muito rápido, tanto para energia eólica, quanto para solar. E estamos avançando muito em tecnologia. Claro que existe espaço para crescer ainda mais, com investimentos em novas tecnologias e novas soluções. Mas esses investimentos têm que acontecer de maneira efetiva. E esse compromisso tem que estar vivo com todas as empresas. Então, eu acredito que existe potencial de promover cada vez mais as fontes limpas de energia, de fazer essa transição para uma fonte de energia limpa, mas vai levar um tempo. Além disso, o cenário externo internacional também impacta em todo esse processo, podendo atrasar a circularidade da economia de baixo carbono. Mas, se mantivermos o ritmo de investimentos, alcançaremos as nossas metas de descarbonização e de transição energética.
Voltando ao setor produtivo brasileiro. O investimento realizado pelas indústrias é revertido em diferencial competitivo? Ou vai gerar um impacto neutro nos negócios?
Não acredito que seja um impacto neutro. Todas as empresas que estão buscando trabalhar com uma matriz energética limpa – fazendo essa transição de forma a ir buscar essa fonte de energia sustentável -, colaboram para deixar toda essa parte do setor mais verde. Isso passa por modernização e por investimento, que vai ser fundamental quando falarmos de um crescimento de longo prazo de todas as nações. A empresa que trabalha e sustenta esses investimentos tem, em si, um diferencial. E eu faço um paralelo muito grande com a reciclagem dentro da Novelis. Somos o maior reciclador do mundo. A energia que é utilizada para produção de um bem com base em alumínio reciclado é 95% menor do que a consumida a partir de um produto que não é reciclado. Então, isso já faz parte da nossa vantagem competitiva. Hoje, nós temos a reciclagem mais avançada do mundo, não é à toa, investimos muito em tecnologia. Isso nos traz um diferencial competitivo e condições de carregar essa bandeira de ser cada vez mais verde.
Qual a importância da regulamentação do Mercado de Carbono no Brasil?
A Novelis é favorável a um mercado de carbono regulamentado. Entendemos que essa é uma maneira, e talvez seja a melhor maneira, de colocarmos um valor nas emissões e incentivar que todos os setores produtivos, que tenham atividades de emissão. E que invistam em tecnologia para reduzir suas emissões.