Especial Transição Energética: conheça a experiência da Nestlé

A redução das emissões de gases de efeito estufa é grande parcela das ações do setor produtivo em prol da transição energética. A partir do investimento em tecnologias e do melhoramento dos processos, as indústrias contribuem para o meio ambiente e para a sociedade. Estabelecer metas é essencial para transformar essa responsabilidade em um compromisso público. Nesta edição do Especial Transição Energética, Jefferson Meneghel, gerente de Energia e Serviços Industriais da Nestlé Brasil, apresenta a sua experiência sobre o tema.

O que o grupo Nestlé entende por transição energética, considerando seus projetos?

Na Nestlé, esse é um tema tratado mundialmente. Entendemos que a transição energética é um passo importante para a jornada de regeneração, porque a partir do momento em que optamos por uma matriz energética de fonte renovável, com baixa ou zero emissão de carbono, contribuímos para proteger e restaurar o meio ambiente. Na Nestlé, trabalhamos com fontes de energia renovável há bastante tempo com o uso de biomassa, que é um combustível com baixa taxa de emissão de carbono. Entendemos, porém, que a busca pela transição energética não depende somente da Nestlé. Trabalhamos junto aos nossos fornecedores, distribuidores e clientes nessa jornada de desenvolvimento da cadeia, demandando e buscando inovações, parceiros e soluções para esse processo. Acreditamos que isso é uma tomada de consciência sobre o atual modelo de produção, consumo e reaproveitamento da matéria e da energia e a influência disso no processo de mudança climática mundial.

 Quais ações já foram iniciadas?

A Nestlé faz parte do acordo global da ONU como uma das primeiras signatárias do compromisso global de redução de 1,5ºC de aquecimento global. Esse processo contribui com o nosso compromisso de reduzir pela metade a nossa taxa de emissão de gases de efeito estufa até 2030 e atingir emissões líquidas zero até 2050. Para zerar as emissões, uma das atividades que já temos no Brasil, desde a década de 80, é o uso de biomassa para geração de vapor em boa parte das nossas plantas. Tivemos recentemente a implementação na fábrica de Araçatuba, que é a primeira planta da Nestlé no mundo a implantar um forno de ar quente movido a biomassa (madeira de reflorestamento) em substituição ao forno a gás. Trata-se de um piloto desenvolvido com foco em investimento em fontes renováveis e redução na pegada de carbono. O forno de ar quente de biomassa traz também outras vantagens, como alta eficiência térmica e menor custo operacional. Entre outros exemplos de ações sustentáveis da companhia, podemos citar também a utilização de painéis fotovoltaicos para o atendimento de alguns processos específicos das fábricas, como no caso de Caçapava, onde toda a produção de KITKAT já usa energia elétrica 100% de fonte solar. Já em Araras, a fábrica gera bioenergia por meio de borra de café, um subproduto da fabricação de café solúvel que é misturado a cavaco de madeira para criar um mix que é usado como biomassa para a geração de vapor e energia das caldeiras da unidade, que alimenta os processos de produção. Além disso, a Nestlé tem um compromisso global de consumir energia elétrica 100% proveniente de fontes renováveis até 2025. No Brasil, esta meta já foi atingida em 2017.

Você acredita que o setor produtivo brasileiro já prioriza esse viés da sustentabilidade?

Olhando o setor produtivo brasileiro, percebemos que a agenda ESG está cada vez mais presente na indústria. Entendemos que a companhia que investe em transição energética prospera como empresa que reconhece o compromisso com a sociedade, com o bem-estar das pessoas, dos pets e com o meio ambiente que estamos inseridos. Ao longo dos anos houve transições dessas abordagens, com a evolução de como nós entendemos o nosso papel na sociedade e, com isso, estamos constantemente aprendendo e evoluindo e nos questionando em como podemos fazer melhor. A sustentabilidade é um tema transversal, que permeia toda a sociedade e a organização. Por isso, trabalhamos cada vez mais integrados com os nossos fornecedores, clientes e distribuidores buscando soluções regenerativas para o planeta. Um exemplo disso é o desenvolvimento das nossas embalagens. Temos a meta de ter 100% das nossas embalagens feitas com materiais recicláveis até 2025. Hoje, 97% das utilizadas no Brasil são desenhadas para serem recicladas ou reutilizadas. Porém, ainda temos um desafio: 3% parece pouco, mas é um desafio enorme a ser vencido.

Com relação ao ambiente internacional, você entende que o Brasil está em um bom patamar em transição energética? Ou ainda tem muito a avançar?

Acreditamos que a transição energética é uma pauta global. Mas, com certeza, o Brasil se destaca nessa jornada de melhoria da eficiência operacional. As discussões sobre esse tema ganham cada vez mais destaque no País por conta dessa grande capacidade que nós temos de geração de matrizes renováveis. Se olharmos os dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o Brasil tem 82% da energia elétrica gerada por fonte renovável. Apesar disso, acredito que nós temos que continuar trabalhando nesse processo de renovação das fontes, porque é um caminho ambientalmente interessante para toda a sociedade. Nós temos um potencial enorme para seguir trilhando e ter a produção da matriz de energia 100% limpa. Esse é o caminho que nós estamos trilhando no Brasil. É um movimento que entendemos como inevitável e que engloba todos os países, não é uma particularidade somente do nosso País.

Voltando ao setor produtivo brasileiro. O investimento realizado pelas indústrias é revertido em diferencial competitivo? Ou é uma tendência que está sendo seguida por todas (ou maioria) e vai gerar um impacto neutro nos negócios?

Nós entendemos que o diferencial competitivo é uma consequência. Ele não deve ser o motivo principal para a transição energética. O principal propósito de investir nessa promoção da transição energética é o benefício que ela traz para o meio ambiente, com a redução das emissões de gases que contribuem para o efeito estufa. Como consequência, a indústria acaba criando um diferencial competitivo, visto que a nossa sociedade vem cobrando uma consciência das empresas por questões de impacto direto ao meio ambiente e nosso planeta.

Qual a importância da regulamentação do Mercado de Carbono no Brasil?

É muito importante ter regras claras e justas para que as empresas possam prosperar. Na Nestlé, temos o compromisso global de reduzir pela metade as emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2030 e atingir emissões líquidas zero até 2050, assim como metas estabelecidas para o mercado brasileiro cumprir nos próximos três anos. Nossa própria jornada para as emissões líquidas zero depende de novas tecnologias, abordagem dos negócios e infraestruturas de baixo carbono. Precisa ser igualmente sustentada por uma legislação de apoio que, entre outras coisas, reduza as barreiras aos mercados de energia renovável, incentive a inovação nos setores agrícola e florestal para capturar mais carbono e ajude a estabelecer padrões comuns para reivindicações de carbono. Sem o ambiente regulatório e político adequado, será mais desafiador para a Nestlé e outras organizações atingir emissões líquidas zero até 2050 e para nossas ações coletivas terem um impacto positivo nessa trajetória das mudanças climáticas. Nessa jornada, acreditamos que, juntos, podemos promover uma diferença positiva nas pessoas, nas comunidades e no meio ambiente.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *