Especial Transição Energética: conheça a experiência da General Motors

A transição energética é uma temática atual no setor produtivo. No entanto, algumas indústrias já caminhavam com o pensamento da eficiência antes mesmo da popularidade do assunto. Otimização de processos, modernização de produtos e priorização de recursos energéticos renováveis são alguns dos pontos-chave na implementação de ações que buscam essa transição. Nesta edição do projeto Transição Energética, você confere a entrevista com Glaucia Roveri, Gerente de Desenvolvimento de Infraestrutura de Veículos Elétricos da GM na América do Sul e membro do Conselho Diretor da ABRACE:

O que a GM entende por transição energética, considerando seus projetos?

Na GM, a transição energética está sob um guarda-chuva bem mais amplo. De forma global, a empresa tem uma visão de futuro que chamamos de Zero-Zero-Zero, que significa zero acidentes, zero congestionamentos e zero emissões. Então, quando falamos de transição energética, ela se traduz no pilar da visão zero emissões. Nesse sentido, considerando que somos uma companhia que produz soluções de mobilidade, estamos falando, principalmente, do produto, os veículos. Se olharmos para o ciclo de vida da nossa indústria e do nosso produto, sabemos que as emissões – e, portanto, a energia que está por trás das emissões – estão no uso do veículo, na cadeia de suprimentos e na manufatura, nessa ordem de significância. Por isso, a GM escolheu o caminho disruptivo da inovação, que levará à eletrificação da nossa linha de veículos, e ainda suprir toda a nossa manufatura com energia renovável. Estabelecemos a meta de suprir 100% das nossas operações globais até 2035 com energia renovável e, portanto, de baixíssima emissão. E as emissões dependem do local em que esse produto vai estar circulando e do acesso à energia proveniente de uma matriz elétrica limpa.

Quais ações já foram iniciadas? 

Nós iniciamos esse processo de transição em 2003, quando começamos a fazer o rastreamento dos nossos indicadores de energia para todas as operações globais. De lá para cá, estabelecemos uma série de objetivos a serem alcançados, que foram ramificados entre cada região, país e unidade operacional. Nesse caminho, tivemos a primeira meta de redução de 20% da energia consumida, número que foi superado a nível global em 2020. Hoje, estamos em um novo momento em busca da neutralidade de carbono. Para isso, temos diversas iniciativas, como a mudança de matriz energética para reduzir conteúdo de emissões e a eficiência de processos, buscando reduzir o consumo específico. As ações variam desde as mais simples, de conscientizar as pessoas sobre o desligamento de equipamentos e apagar a iluminação, até ações que vão diretamente na eficiência do processo produtivo, como por exemplo o novo processo de estamparia instalado na nossa fábrica de S. Caetano, que tem uma eficiência de mais de 40%, comparando ao processo anterior. Entendemos que não basta repensar as atividades de um processo já implantado, é preciso fazer as equipes pensarem de forma diferente e buscarem as oportunidades de redução também no dia a dia. Isso acontece com energia, com água, com geração de resíduos. Tudo é repensado no momento do projeto.

Qual o planejamento para o futuro (curto, médio e longo prazo) em relação às ações que promovem e visam contribuir com a transição energética?

No curto prazo, continuaremos com as iniciativas de aumento da eficiência energética, utilizando energia renovável e ativos que a própria empresa tem; como os sistemas de energia solar, seja para aquecimento ou para geração fotovoltaica. Entre curto e médio prazo, estamos modificando a linha de produto e acelerando a eletrificação. O primeiro lançamento foi o Bolt, em 2020, e já anunciamos outros produtos que vão se juntar à nossa linha na América do Sul, em perfeito alinhamento com os produtos globais. E continuamos, a cada oportunidade, aprimorando a eficiência dos processos. Também estamos trazendo toda a nossa cadeia de fornecimento, dentro do nosso Comitê ESG. A GM reporta todos os dados de emissões, água e gestão de florestas através do CDP (Carbon Disclosure Project). Os nossos fornecedores também reportam ao CDP e têm seus dados de mudanças climáticas, água e florestas também publicados. Nós queremos trazer toda a cadeia de fornecimento na mesma jornada, multiplicando os objetivos de eficiência e transição energética. E, no longo prazo, vamos finalizar essa transição de produtos e a transição para energia renovável a nível global. 

Você acredita que o setor produtivo brasileiro já prioriza esse viés da sustentabilidade?

Eu diria que esse é um movimento crescente. A sociedade tem se conscientizado e exigido, e dependendo da linha de produtos isso já está bastante presente. Quem está ligado diretamente ao consumidor final já percebe através do relacionamento com o cliente e, com isso, as empresas começam a se movimentar. Além disso, existem os compromissos de mudanças climáticas firmados pelo país, que permeiam a indústria nacional. Mas acredito que a maioria já começou a perceber que fazer investimento em sustentabilidade e nas práticas ESG traz resultados positivos, não só engajamento das pessoas, mas do próprio resultado de sustentabilidade ambiental e financeira. Quando falamos de investimentos em transição energética, em aumento da eficiência, em redução de emissões, na área social e na própria governança dos nossos processos, isso traz uma cesta de benefícios que não estão só em custos, mas estão também em outros resultados acessórios, como percepção pública, percepção do próprio time que trabalha. Isso se traduz em um fortalecimento da sustentabilidade operacional da empresa. O sistema produtivo brasileiro tem se engajado e, com certeza, vamos ver cada vez mais esse movimento.

Com relação ao ambiente internacional, você entende que o Brasil está em um bom patamar de investimentos em transição energética? Ou ainda tem muito a avançar? 

Se a gente olhar a matriz energética, o Brasil é um potencial na liderança, porque a nossa matriz já é bastante limpa. Temos um potencial solar e eólico que é impressionante, e essas duas fontes têm crescido muito nos últimos tempos. O biogás e a biomassa também são outras fontes que vêm sendo exploradas e que têm tido cada vez mais viabilidade econômica. Em termos de hidrogênio, temos um potencial muito grande em função dessa nossa matriz. O Brasil tem tudo para liderar. No entanto, nós temos um desafio: o custo. Precisamos repensar a estrutura de custos e tributos do nosso custo de energia, que reduzem a competitividade do País. Acredito que nós temos que aprender a usar essa matriz limpa e todo o potencial de energia renovável como uma ferramenta para melhorar a nossa competitividade internacional e entender a importância de ter um custo de energia competitivo.

Voltando ao setor produtivo brasileiro. O investimento realizado pelas indústrias é revertido em diferencial competitivo? Ou é uma tendência que está sendo seguida por todas (ou maioria) e vai gerar um impacto neutro nos negócios?

Acredito que ainda é um diferencial. A vantagem e o equilíbrio financeiro que temos hoje trazem benefícios à sustentabilidade, porque conseguimos reduzir emissões e com isso ter um produto que é menos agressivo e mais atrativo aos olhos do consumidor. Mas estamos gerando créditos que não são valorizados. Nesse sentido, o decreto que cria o mercado de créditos de carbono vai ser bastante importante nesse equilíbrio financeiro. O investimento representa um custo adicional, e a geração de créditos torna-se mais uma ferramenta financeira de sustentabilidade. É dessa forma que vamos progredir.

Qual a importância da regulamentação do Mercado de Carbono no Brasil?

Falamos um pouco sobre o componente de custos e de como a criação desse mercado é importante para dar sustentabilidade e atratividade para que as empresas continuem investindo na transição energética e em fontes de baixo carbono. Além disso, temos extensas áreas de preservação que são muito importantes e algumas que tem participação de empresas que são potenciais geradores de créditos. Isso traz a possibilidade de o País se tornar um hub de geração de créditos e ter um papel muito importante na redução de emissões a nível global. Isso é essencial para continuarmos atraindo investimentos para o nosso País. Os fundos de investimentos têm uma visão muito clara, com processos de aprovação de investimentos que passam pela avaliação da performance de sustentabilidade. Então, reportar dados com transparência e até mesmo atrelar isso aos índices de bolsas de valores é essencial. Atrair investimentos passa pelo estímulo dessa indústria de baixo carbono e pela preservação, para que possamos gerar créditos e nos tornarmos esse hub global.

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