Especial Transição Energética: conheça a experiência da Archer Daniels Midland Company

O Brasil tem um potencial estratégico para liderar a transição energética global. A disponibilidade de uma matriz elétrica renovável possibilita ampliar projetos e metas de emissões de carbono, por exemplo. A indústria brasileira caminha em direção a estes avanços, realizando ações que promovem a eficiência energética em seu dia a dia. Mas os esforços precisam ser conjuntos, e envolvem políticas públicas favoráveis, novas tecnologias e amplo debate com os diversos agentes da sociedade. Sobre a temática, confira a seguir a experiência relatada pelo engenheiro Sudá de Andrade, Especialista de Energia LATAM na Archer Daniels Midland Company (ADM).

O que a ADM entende por transição energética, considerando seus projetos?

Para a ADM, a transição energética é entendida como um caminho que deve ser planejado, estruturado e sustentado para que o negócio continue suprindo as expectativas de nossos consumidores, que estão cada vez mais atentos à pegada energética e ambiental dos produtos que consomem. Percorrendo esse caminho da transição, esperamos estar inseridos em um sistema global mais sustentável e que gere o menor impacto possível. Para nós, não existe “bala de prata” para a transição energética e as soluções para os desafios virão do esforço conjunto da sociedade, com pessoas fortemente comprometidas, políticas favoráveis e seleção criteriosa de tecnologias dentro de um portfólio diversificado de opções já existentes, entre elas eólica, solar, biomassa, PCHs, biocombustíveis, junto a outras ainda a serem descobertas.

 Quais ações já foram iniciadas?

Nós participamos desse movimento de transição estabelecendo metas e planos de ação para reduzir a intensidade da energia e as emissões de CO2. Nesse sentido, temos como meta atual a redução de 15% em intensidade energética, e 25% em emissões até 2035, tendo como ano base 2019, o que internamente chamamos de Strive 35. Em adição, recentemente estabelecemos que a meta de redução de 25% de emissões deve envolver também o escopo 3, ou seja, a nossa cadeia de fornecimento e pós-venda, além dos tradicionais escopos 1 e 2. Também temos metas para redução de resíduos e uso de água. Após estabelecermos essas metas de longo prazo, elencamos esse objetivo em ações e projetos em horizontes de tempo diferentes. Entre os projetos atuais em nível global, temos a aceleração da descarbonização de nossas unidades movida a combustível fóssil, o que inclui uma planta de captura de CO2 operando em Decatur, Illinois-EUA. Em nível regional podemos citar a assinatura de um acordo de 15 anos para a geração de uma planta eólica que vai nos gerar 31,9 MWh de energia, reduzindo nossas emissões de carbono em 19 mil toneladas métricas por ano, além de investimentos em Plantas Solares Fotovoltaicas.

 Qual o planejamento para o futuro (curto, médio e longo prazo) em relação às ações que promovem e visam contribuir com a transição energética?

A ADM tem, em seu parque fabril, uma visão muito forte do papel da eficiência energética operacional. No curto e médio prazo conduzimos um esforço por meio das “Caçadas ao Tesouro de Energia”, eventos que visam eliminar os desperdícios de energia à medida em que conscientiza-se a operação. Além disso, temos comitês de gerentes de energia globais que trocam experiências e boas práticas sobre iniciativas e projetos. Outro programa é o “Campeões de Energia”, que visa capacitar os colaboradores nas unidades para que identifiquem e ajudem no processo de combate aos desperdícios. Já no médio prazo, temos conselhos corporativos regionais e globais de sustentabilidade que discutem estrategicamente quais projetos devem ser aprovados, visando a transição energética e a sustentabilidade. Buscamos também aumentar o número de unidades certificadas com a ISO 50001, que é a ISO relativa à gestão de energia. No longo prazo, além das metas já citadas, realizamos uma constante análise de viabilidade de novas tecnologias, novas oportunidades de geração e de redução de emissões.

 Você acredita que o setor produtivo brasileiro já prioriza esse viés da sustentabilidade?

O Brasil é privilegiado quando se trata do pilar energético da sustentabilidade. Nossa matriz é relativamente limpa comparada a outros países, temos uma disponibilidade de biomassa para produção de vapor nas indústrias. No caso da ADM, por exemplo, utilizamos o cavaco de madeira reflorestada nos processos produtivos. Ou seja, a priorização desse viés de sustentabilidade vem de forma natural. Porém, em outros pilares como resíduos, uso de água, biodiversidade e uso da terra, ainda há um caminho a ser percorrido pela indústria para que essa priorização também atinja um patamar que seja comparável às melhores experiências internacionais. Nesse processo de priorização, as políticas públicas e as autoridades envolvidas também têm papel importante na criação de um ecossistema que facilite que esses outros pilares sejam melhor contemplados.

 Com relação ao ambiente internacional, você entende que o Brasil está em um bom patamar de investimentos em transição energética? Ou ainda tem muito a avançar?

Em relação ao ambiente internacional, o patamar do Brasil é, sem dúvidas, relevante em relação aos investimentos. Estamos, inclusive, à frente de outras nações mais desenvolvidas em solar e eólica, por exemplo. Porém, há muitas frentes a se avançar em setores como o hidrogênio verde, a eólica offshore, o mercado de carbono e a captura de carbono. Para que esses setores se desenvolvam é necessário que os agentes do mercado de energia, em conjunto com as autoridades competentes do setor, elaborem regulações mais modernas que permitam um ecossistema estável e favorável a este tipo de investimento. Além disso, há também avanços necessários em mão de obra especializada para acelerar essa transição.

 Acredita que o Brasil utiliza todo o potencial que tem para promover a transição energética? 

Acredito que o Brasil tem potencial para ser reconhecido como um líder mundial na transição energética, o que ainda não acontece, mesmo com os vastos recursos renováveis. Nós temos um potencial subaproveitado do mercado de carbono, que poderíamos comercializar e o retorno ser investido em outros setores da sociedade. Além disso, poderíamos concentrar esforços em criar ambientes de negócio que favoreçam a viabilidade de projetos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), principalmente em novas tecnologias. A indústria tem um papel importante em pensar na escala piloto de projetos de P&D, como é feito em outros países, especialmente na Europa. Essa abordagem do P&D próximo à indústria geralmente reduz o custo de aprendizado de novas tecnologias, o que impulsiona a transição.

 Voltando ao setor produtivo brasileiro. O investimento realizado pelas indústrias é revertido em diferencial competitivo? Ou é uma tendência que está sendo seguida por todas (ou maioria) e vai gerar um impacto neutro nos negócios?

Entendemos que há oportunidades interessantes na transição energética que geram diferencial competitivo. E as empresas, como a ADM, que se posicionarem antecipadamente nesse aspecto poderão se beneficiar de regulações mais rígidas no futuro próximo. No caso da eficiência energética, apesar de menos midiático no contexto atual do ESG e da sustentabilidade, há diferenciais competitivos claros por trabalhar, muitas vezes, com oportunidades que não exigem grandes investimentos, os chamados “frutos caídos” no jargão econômico. Por outro lado, quanto mais os investimentos na transição e na sustentabilidade são realizados por uma quantidade maior de atores na indústria, mais eles se tornam “business as usual”, ou seja, mais comuns, e tendem a trazer um impacto mais neutro para quem os realiza, e mais prejudicial para aqueles que não os realizarem.

 Qual a importância da regulamentação do Mercado de Carbono no Brasil? 

A ADM vê com bons olhos o mercado de carbono, seja este regulado ou voluntário. Internamente já contabilizamos o custo do carbono financeiramente para avaliar a viabilidade de nossos projetos. Na nossa visão, uma legislação que traga segurança jurídica ajudará a colocar um valor nas emissões e a enviar um sinal ao mercado que pode potencializar investimentos em tecnologia voltadas à transição e à redução de emissões, como mostra a experiência de nossos colegas europeus. Sabe-se que o projeto de lei em pauta (PL 528/21) ainda passará por fases de amadurecimento antes de ser aprovado, mas para que haja segurança jurídica nesse processo, deve-se ter em mente que é vital ampliar a discussão e envolver todos os setores da sociedade. Pois além de global, a forma como gerenciamos esse orçamento de carbono é uma questão intergeracional e extrapola vários setores da sociedade.

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