Especial Transição Energética: conheça a experiência da Anglo American

Investimentos em inovação e em pesquisa e desenvolvimento também fazem parte do movimento de transição energética operado pelas indústrias. A busca por processos mais sustentáveis passa por metas individuais e globais, que contribuem para a conservação do meio ambiente. O Brasil é um exemplo mundial, pela matriz elétrica limpa que o País já dispõe. Mas pode avançar ainda mais e tem o potencial para isso. Sobre a temática, confira a seguir a experiência relatada por Alfredo Lamêgo Duarte, o Global Supply Manager Energy&Water da Anglo American:

O que a Anglo American entende por transição energética, considerando seus projetos?

A Anglo American opera em quase todos os continentes, em várias commodities de mineração, entre elas diamante, cobre, carvão metalúrgico, minério de ferro, níquel e platina. Estamos no Brasil há quase 60 anos, onde operamos duas commodities importantes que são o minério de ferro e o níquel. A Anglo American tem um comprometimento global que chamamos de burning ambition, cuja meta é reduzir em 30% a nossa emissão de carbono e o nosso consumo de energia até 2030. Somos uma das poucas mineradoras do planeta que tem a ambição de se tornar completamente neutra em carbono até 2040, a grande maioria planeja para 2050, ou mais. Para nós, a eficiência energética não é apenas um compromisso, o objetivo é ainda maior e envolve a responsabilidade social, a segurança energética e a manutenção da competitividade nos negócios.

Quais ações já foram iniciadas?

Nós temos diversas ações de eficiência energética em todas as nossas unidades mundiais. Hoje, todas as nossas unidades no Brasil, no Chile e no Peru já utilizam energia 100% renovável, de fontes certificadas. Na Austrália estamos fechando um processo de compra de energia para os próximos 15 anos em que pretendemos também consumir uma energia 100% renovável. Esse é um caso bem diferente do nosso cenário brasileiro, uma vez que no Brasil temos uma matriz energética com mais de 80% de fonte renovável, enquanto na Austrália 90% é de fonte térmica, gás ou carvão. E temos ações no mundo inteiro em todas as nossas unidades nesse sentido. Além disso, estamos desenvolvendo a tecnologia Anglo American de caminhões fora de estrada movidos à hidrogênio, já temos, inclusive, um protótipo rodando. Também para essa transformação energética pretendemos investir até 3500 MW na África do Sul em fontes renováveis com o objetivo de ajudar a desenvolver o hidrogênio e as comunidades locais na área de influência nas nossas operações.

Você acredita que o setor produtivo brasileiro já prioriza esse viés da sustentabilidade? 

Eu acredito que os olhos estão voltados para a importância da transição energética em toda a indústria, mas ainda precisamos nos aculturar sobre a importância da eficiência energética dentro das nossas operações. Eu digo aculturar, porque é mesmo uma educação dia a dia que nós temos que promover. Os projetos de eficiência energética têm que estar dentro da cultura da empresa. As pessoas têm que acreditar que aquilo é importante. 

Com relação ao ambiente internacional, você entende que o Brasil está em um bom patamar de investimentos em transição energética? Ou ainda tem muito a avançar?

Primeiramente eu gostaria de posicionar o Brasil em relação às outras unidades da Anglo no mundo. O Brasil está um passo à frente das outras unidades. Temos o poder de influenciar as outras unidades pelo exemplo. Nós temos empreendido ações muito efetivas aqui, que incentivam outras unidades ao mesmo. Na América Latina, por exemplo, desenvolvemos uma planta solar flutuante nos reservatórios dentro das nossas plantas. Esse conhecimento é repassado a todas as unidades de maneira a incentivá-las a fazer o mesmo. Em termos gerais, eu acredito que sempre o Brasil é um grande influenciador das outras indústrias do mundo pelo próprio exemplo e pela própria matriz energética que temos.

Acredita que o Brasil utiliza todo o potencial que tem para promover a transição energética? 

Sempre existe um potencial de avanço, temos muito a percorrer. Em termos de eficiência energética, por exemplo, acredito que uma das fontes do futuro mais importantes que vamos ter será o uso eficiente e racional de energia em nossas operações. Nesse sentido, ainda temos muito a percorrer. Além disso, o hidrogênio vai ser a grande revelação do futuro. E temos muito a fazer nesse quesito ainda no Brasil.

Voltando ao setor produtivo brasileiro. O investimento realizado pelas indústrias é revertido em diferencial competitivo? Ou vai gerar um impacto neutro nos negócios?

Eu acredito muito que é um diferencial competitivo e que veio para ficar. Esses investimentos estão levando as indústrias a um outro patamar e quem não acompanhar esse patamar e viver essa busca constante de eficiência, de uso racional de energia e fontes renováveis e limpas vai ficar para trás. Além disso, existe uma pressão muito grande da sociedade para que haja esse tipo de consciência dentro das indústrias.

Qual a importância da regulamentação do Mercado de Carbono no Brasil?

No mundo, hoje, existem 60 países que já têm o mercado de carbono desenhado, mas não regulamentado. Apenas 8 países, dentre esses, têm o mercado de carbono regulamentado, como é o caso da Inglaterra e da Austrália. O Brasil deu um passo importante nesse caminho e estará novamente influenciando o mundo inteiro. Vamos entrar em um mercado muito incipiente e que, mesmo que muitos estejam falando sobre isso, poucas pessoas estão realmente fazendo. Nós vamos estar à frente desse mercado pelo fato de termos uma geração muito limpa e uma geração de crédito de carbono importante. Mas, por outro lado, esse mercado de carbono vai custar. Ou seja, essa é uma grande oportunidade de negócio para o Brasil, entrando na frente e tendo uma fonte de energia tão renovável e limpa quanto a nossa. Vai nos deixar muito competitivos em relação ao resto do mundo, com toda a certeza.

 

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