Especial Transição Energética: conheça a experiência da Alcoa

O setor produtivo está empenhado em contribuir para a transição energética, buscando reduzir as emissões de carbono e o desenvolvimento de novas tecnologias. As metas são ambiciosas, mas o propósito vai além do retorno sobre o investimento e alcança, inclusive, questões ambientais e sociais. O Brasil tem o potencial de ser referência nas questões de sustentabilidade. No entanto, alguns desafios precisam ser vencidos. Confira mais detalhes na entrevista com Rafael Zara Garrio, gerente de Energia na Alcoa e membro do Conselho Diretor da ABRACE.

O que a Alcoa entende por transição energética, considerando seus projetos?

Na Alcoa, temos uma visão de transição energética incorporada ao programa que chamamos de “2050 Net-Zero”. O objetivo é a redução das emissões de escopo 1 e 2 no programa GHG. Nesta meta, temos uma série de ações dentro da cadeia de produção de alumínio primário e refino da alumina, com as metas de reduzir as emissões em 30% até 2025 e 50% até 2030, com base no ano de 2015. Sabemos que é um cronograma ambicioso e será alcançado com o propósito “Transformar Potencial em Progresso Verdadeiro”, que pretende inovar os métodos de nossa indústria, aumentando a participação de fontes renováveis e desenvolvimento de novos produtos aderentes a este objetivo.

Quais ações já foram iniciadas?

Ao longo dos anos, as plantas industriais da Alcoa realizaram uma série de substituições dos combustíveis utilizados em seu processo fabril. Cabe destacar a substituição do óleo combustível pelo gás natural em uma das refinarias, e a introdução do sistema FlexGas, com objetivo de obter um sistema semelhante ao gás natural na cadeia produtiva do alumínio. Além disso, 75% da energia elétrica consumida pelas nossas plantas de alumínio é renovável. Internacionalmente, temos um projeto na planta de Maaden onde será desenvolvida uma produção de vapor utilizando um sistema concentrador solar substituindo o uso de gás natural. A previsão desse projeto é entrar em operação em 2024. Vale também acrescentar o retorno da produção de alumínio primário na Alumar, fábrica que temos participação e localizada em São Luís. Nela, os contratos de energia são 100% lastreados de fonte renovável.

Qual o planejamento para o futuro (curto, médio e longo prazo) em relação às ações que promovem e visam contribuir com a transição energética?

A Alcoa tornou público em seu evento “2021 Investidor Day” uma série de investimentos em novas tecnologias e iniciativas que consideramos como a reinvenção da indústria do alumínio, no que se refere à redução de emissões. Nesse sentido, destacamos, por exemplo, o desenvolvimento de uma nova tecnologia para a purificação do alumínio reciclado. Outro conceito é a refinaria do futuro, com foco na descarbonização do processo de refino da alumina, que tem como principais pilares a recuperação de vapor de baixa pressão ao longo do processo produtivo e a eletrificação do processo de calcinação, suportados por fontes renováveis de energia elétrica. Por fim, temos uma nova tecnologia que está sendo desenvolvida que é a substituição dos eletrodos convencionais utilizados na produção de alumínio primário por uma tecnologia com novos materiais e design, cuja emissão ao final do processo é apenas oxigênio. Estas diretrizes, alinhadas ao potencial de energia renovável e sustentável que o Brasil possui, estão aderentes com o programa “Net-Zero” da Alcoa até 2050.

Você acredita que o setor produtivo brasileiro já prioriza esse viés da sustentabilidade?

Esta temática teve considerável evolução nos últimos anos dentro do setor produtivo. O que até então era um assunto tratado de forma secundária, hoje é um grande pilar que suporta qualquer decisão dentro da indústria. Esta demanda serviu como base para o desenvolvimento dos mercados de carbono e o amadurecimento dos programas de certificação, assim como pelo interesse de expansão da matriz energética por fontes renováveis. Além disso, temos associações se especializando no tema e oferecendo áreas de apoio para avançar sobre isso. A sustentabilidade é uma demanda da sociedade, do mercado, do governo e das próprias empresas. Estamos ativamente moldando este movimento e pensando em soluções para os mais diversos desafios de sustentabilidade. Isso inclui não apenas as questões ambientais, mas também as questões sociais, como o respeito aos direitos humanos e à diversidade.

Acredita que o Brasil utiliza todo o potencial que tem para promover a transição energética? 

Temos um país com um dos melhores índices de incidência solar, grande variedade de indústrias que permitem o desenvolvimento de uma série de tecnologias baseadas em reaproveitamento de processos – como o biogás da cana de açúcar – e vasta territorialidade que nos dá acesso a diversas fontes de geração. Pensando na utilização do potencial que o País tem, os principais gargalos para o nosso desenvolvimento estão nos custos que permeiam a conta de energia elétrica, acesso a estruturas e ineficiência tributária, uma vez que em cada Estado há um enquadramento diferente para a cadeia de energia elétrica. Cabe destacar o trabalho que as associações vêm fazendo, como as propostas expostas pelo FASE (Fórum de Associações do Setor Elétrico) para reduzir o custo de energia elétrica no Brasil em até 30%. Essas propostas buscam uma reavaliação de subsídios, livre escolha do fornecedor de eletricidade por consumidores residenciais, deslocamento do consumo de horários de maior sobrecarga para momentos em que há ociosidade nos sistemas e outras contribuições que podem trazer eficiência ao nosso setor elétrico.

O investimento realizado pelas indústrias é revertido em diferencial competitivo? 

Acredito que temos sim. O exemplo da Alcoa neste item se dá pela reativação da produção de alumínio primário da Alumar. Enquanto em outras localidades a Alcoa tem revisto seu portfólio, foi decisão da empresa reativar a fábrica em São Luís, hibernada desde 2015. Conseguimos provar que o Brasil é um lugar viável, graças a anos de trabalho e desenvolvimento de fontes renováveis que hoje estão em patamares acessíveis à indústria nacional.

Qual a importância da regulamentação do Mercado de Carbono no Brasil? 

A Alcoa acredita que essa regulamentação é necessária para proteger o meio ambiente e temos adotado metas estratégicas desafiadoras de longo prazo para orientar nossas ações,  independentemente das posições governamentais nos países onde atuamos. Estamos comprometidos em apoiar os esforços de mudança climática e estamos continuamente trabalhando para reduzir significativamente nossa pegada de carbono e contribuir com nossos produtos para uma sociedade de baixo carbono.

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