Entrevista com o Vice-Presidente do Conselho, Anderson Baranov

A indústria tem papel fundamental na transição energética. O setor produtivo já está aprimorando processos a fim de reduzir emissões, substituindo energéticos e investindo em eletrificação. Na entrevista a seguir, o vice-presidente do conselho da Abrace, Anderson Baranov, conta um pouco sobre sua visão para o futuro da energia no Brasil. Ele, que é vice-presidente sênior de Relações Externas da Hydro na América do Sul, também fala sobre a importância da modernização do setor e a função estratégica da Abrace. Confira:

Qual o papel da indústria para a transição energética brasileira?
A transição energética é uma realidade e uma demanda global. A descarbonização é um desafio e a indústria vem investindo em várias frentes para dar sua contribuição para a redução de emissões, com iniciativas como geração de energias renováveis, eletrificação e uso de biomassa em substituição a combustíveis fósseis, coprocessamento, entre outros. Toda a infraestrutura energética da nossa sociedade foi construída tendo como base energias de fonte fóssil. Por isso, tornar a matriz energética limpa é um processo de transição, que envolve soluções em tecnologia e investimentos para suprir a demanda de energia de forma confiável e economicamente competitiva. Aqui na Hydro, por exemplo, estamos investindo todos os nossos esforços, buscando novas fontes de energia renovável para nossas operações, pesquisando soluções verdes, tudo para atingir nossa meta de redução de nossas emissões em 30% até 2030 e de sermos carbono neutro em 2050. Sabemos que, assim como nós, grandes companhias vêm desenvolvendo um trabalho sério para atingir as metas Net Zero e que juntos estamos alcançando resultados relevantes para apoiar a redução de carbono e apoiar o cumprimento do Acordo de Paris.

O que podemos esperar em relação à mudança da matriz energética?
O Brasil tem todas as condições de liderar o processo de transição energética, por dispor de várias formas de energia limpa em sua matriz. Já somos um dos países mais sustentáveis na produção de energia e nossa média de uso de energia limpa, sobretudo a hidrelétrica, solar e eólica, supera em larga escala o consumo mundial, que ainda é muito focado no uso de combustíveis fósseis, como petróleo e carvão.
O país ainda tem condições de ampliar o uso de biomassa, hidrogênio verde, além da energia solar e eólica que vem crescendo em capacidade instalada a cada ano. Também vem crescendo a adoção do gás natural, que embora não seja renovável, tem alto rendimento energético, comparado a outras fontes fósseis. O gás natural é considerado o combustível da transição.
É notável o movimento da sociedade na busca pela sustentabilidade e, naturalmente, esse movimento deve estar equilibrado com o fato de que a indústria brasileira encara a competição internacional em seus mercados. O custo da energia não pode se tornar um peso nesse cenário. Assim, sabemos que alguns setores ainda precisam de regulamentação mais específica. Esses aprimoramentos permitirão que os consumidores possam ter acesso à energia limpa com custo competitivo. Mas acredito que estamos no caminho certo e, cada vez mais, o Brasil vai se consolidar como um exemplo de matriz energética sustentável.

Por que a modernização do setor elétrico é tão importante?
A modernização legal e regulatória do setor elétrico é necessária para acompanhar as profundas transformações que passamos nos últimos anos e também as novas tecnologias que esperamos para o futuro. Ainda precisamos revisar alguns mecanismos existentes que tornam o setor menos eficiente. Há uma grande carga de subsídios sobre os consumidores, grandes e pequenos, que oneram as contas e criam um descasamento entre a realidade do setor e o preço de mercado.
É natural esperar mais processos industriais sendo eletrificados no futuro, devido ao movimento de transição energética. Novas tecnologias também podem impactar o balanço de oferta e demanda, como o hidrogênio verde e sistemas de armazenamento de energia.
Esse novo paradigma de expansão do setor precisa se dar em bases eficientes. Para isso, a regulação e o planejamento setoriais precisam de novos dispositivos para dar os sinais econômicos adequados. Um mercado de energia eficiente permitirá que os consumidores possam ter acesso à energia limpa e a um custo que reflita a sua realidade. Nesse futuro, o consumidor se tornará ainda mais relevante e participativo.

Qual a importância da ABRACE para os consumidores, para a indústria e para o desenvolvimento do setor energético?
O setor energético é estratégico para o país e para o dia a dia de toda a população. Num mercado dinâmico e que passa por grandes transformações, é essencial o papel da ABRACE representando os principais consumidores de energia do país.
A ABRACE é reconhecida no setor pela construção de propostas com fundamentação técnica. A instituição também vem agregando valor ao debate com o aperfeiçoamento de como comunicamos as complexidades do setor à sociedade geral e aos tomadores de decisão. Um dos desafios é demonstrar como a competitividade da indústria gera benefícios que permeiam toda a sociedade e setores da economia. Acredito que a associação vem desempenhando bem esse papel.
A associação sempre foi um espaço aberto de diálogo onde a indústria pode aprender, debater tendências, novidades, inovação, tecnologia, trocar experiências de networking e benchmarking e muito mais. Não temos dúvidas de que a ABRACE contribui ativamente para o crescimento do setor, atuando em questões relevantes como a ampliação da escala e melhoria da competitividade, geração de empregos no segmento, aumento de investimentos, modernização do setor, aperfeiçoamento da legislação, entre outros.
Para a Hydro, é uma honra ser uma das associadas e participar deste canal fundamental para o desenvolvimento do setor energético no Brasil e que a associação siga trazendo debates necessários e promovendo conhecimento sobre o tema.

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