Entrevista com o Presidente do Conselho, Gustavo Checcucci

A Abrace é formada por um corpo técnico robusto, pautado por estudos e dados consistentes, que permite uma ampla atuação na mídia e nos ambientes regulatório e político. Todo esse trabalho é respaldado por um grupo de conselheiros renomados e qualificados, liderado por Gustavo Checcucci, Diretor de Energia e Descarbonização na Braskem. Na entrevista a seguir, o presidente do Conselho fala um pouco sobre a visão para o setor energético, a importância da sustentabilidade e o papel da atuação da Abrace. Confira:

Qual o papel da indústria para a transição energética brasileira?
De maneira geral, a indústria é um grande emissor de carbono na atmosfera e nós temos que mudar isso. E essa mudança já está acontecendo, com discussões sobre intensidade e velocidade, e sobre o quanto a indústria consegue se transformar com resultados econômicos positivos acelerando essa transformação.
O setor produtivo brasileiro de base foi construído, em sua maioria, no século passado, quando não se pensava em carbono. Então o papel da indústria, hoje, é exatamente o de se transformar e adequar ao mundo novo para operar com sustentabilidade, não apenas no sentido do renovável, mas que tenha ativos e produtos rentáveis vinculados a um cenário de baixo carbono.
É um desafio enorme a indústria brasileira fazer essa transformação, ainda mais se compararmos com outros países. Vemos a Europa e os Estados Unidos, por exemplo, onde os próprios governos estão financiando isso, estão contribuindo, investindo dinheiro, apoiando e suportando essa transição, porque sabem que boa parte dela não é rentável economicamente. A indústria brasileira precisa de apoio. Estamos implementando várias iniciativas, mas uma parte delas encontra barreiras de viabilidade econômica, técnica ou tecnológica, então é fundamental termos o apoio de parceiros e governos.

Por que a modernização do setor elétrico é tão importante?
A modernização do setor elétrico é importante, porque o processo energético precisa ser eficiente para que possamos fazer a transformação energética de maneira sustentável. Um setor não eficiente gera custos que inviabilizam essa transformação. Vemos no modelo atual do setor um volume excessivo de encargos setoriais, que tem uma energia barata no sistema, mas que isso não se reverte ao consumidor, porque ele paga uma conta cara, com diversos encargos setoriais e subsídios que oneram o consumidor, que deveriam estar sendo pagos através de tributos e impostos. Isso está tornando o mercado de energia elétrica completamente assimétrico e pressionando a indústria brasileira.

O que podemos esperar e como o setor de gás natural deve avançar a partir do cumprimento da harmonização regulatória, estabelecida na Lei do Gás, a qual estabelece que os estados devem acompanhar o que foi definido em lei federal?
Temos atualmente um gás natural posto na indústria bastante caro comparado com os nossos competidores internacionais. Fala-se que não tem demanda de gás no Brasil, mas a verdade é que não há demanda para o nível atual de custo que a indústria paga. Com a redução do nível de custo atual que é colocado para o consumidor, a demanda tem potencial para aumentar. E para acontecer essa transformação para que o gás passe a ser mais competitivo, é preciso um avanço regulatório, sob a ótica de produção, transporte, distribuição e comercialização.
Eu acredito e já vejo uma concorrência benéfica entre Estados para ter regulações cada vez mais eficientes. Nesse sentido o RELIVRE foi muito positivo, gerando essa concorrência na busca por fomentar e incentivar o mercado livre de gás natural. Porém, ainda existem desafios. O mercado de gás natural é recente e relativamente desconhecido, portanto acaba gerando sobreproteções em todos os lados. Resumindo, é um mercado que precisa evoluir, continuar operando e ter mais respaldo regulatório para que, de fato, ele consiga avançar. Esse processo já está acontecendo. Os Estados estão, cada vez mais, revisitando as suas regulações para torná-las mais eficientes e mais alinhadas com harmonização federal. Ainda, é fundamental fomentar a competição na produção e venda do gás permitindo assim uma competição na venda desse insumo, pouco perceptível atualmente.

Qual a importância da ABRACE para os consumidores, para a indústria e para o desenvolvimento do setor energético?
O papel da ABRACE é fundamental para consolidar a visão da indústria, comunicando-se com os diversos stakeholders na busca por políticas adequadas. Além disso, a ABRACE tem um papel de liderar as transformações dos setores de energia elétrica e gás natural, ou seja, o setor de energia como todo. Destaco elétrica e gás, porque são setores muito regulados e que, portanto, o papel da Associação é fundamental para acelerar e desafiar o status quo buscando regulações competitivas, sustentáveis e modelos regulatórios eficientes. Isso se conecta com a necessidade da modernização do setor elétrico e do avanço do setor regulatório de gás natural, porque ambos possuem disparidades e assimetrias regulatórias, com pontos que não incentivam o mercado. A ABRACE é o ambiente que a indústria tem para liderar esse processo, sendo ela a representante do setor a defender a competitividade e sustentabilidade de modo transversal entre setores industriais.

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