Entrevista com o Conselheiro Rogério Catarinacho

Para um ambiente de negócios estável, um fator chave é um setor energético seguro, moderno, estável e competitivo. Os investimentos em transição energética também dependem desses coeficientes. Nesse cenário, a indústria ocupa posição de destaque. Como grandes consumidores de energia, o setor produtivo depende da implementação de regras adequadas, como participantes da economia, a indústria nacional contribui com produtos e tecnologias que são elementos fundamentais para alavancar o processo de transição energética. Na entrevista a seguir, Rogério Catarinacho, Diretor Industrial na Unipar e membro do Conselho Diretor da Abrace, descreve importantes conceitos no âmbito da sustentabilidade e do setor energético que precisam ser levados em consideração nesse debate.

Qual o papel da indústria para a transição energética brasileira?
O planeta vive um momento crítico, que nos obriga a propor soluções e a adotar práticas sustentáveis e responsáveis ao longo de toda a cadeia produtiva. A indústria é responsável por uma parcela significativa do consumo de energia no país, bem como pela emissão de gases de efeito estufa. Ao mesmo tempo também contribui decisivamente com pesquisa e capital para o desenvolvimento de processos e tecnologias mais eficientes e de baixa emissão.
Nesse contexto, o papel da indústria para a transição energética no Brasil é fundamental, até mesmo para sua perenidade, e isso pode se dar de várias maneiras:
– Transição de combustíveis fósseis: introdução e expansão de novas fontes renováveis, como solar, eólica, biomassa, biogás, etanol, cogeração com reaproveitamento de fontes térmicas, entre outras;
– Eficiência energética: implementação de equipamentos e processos mais eficientes, uso de IA (inteligência artificial) e/ou tecnologia 4.0 para controle e menor variabilidade dos processos, redes inteligentes e uso otimizado de matérias-primas e insumos;
– Descarbonização dos processos: uso de outras fontes, como elétrica ou hidrogênio verde;
– Pesquisa e desenvolvimento: visando tecnologias mais limpas, novos materiais, processos para captura e armazenamento de carbono;
– Incentivar e estimular o comprometimento ao longo de toda a cadeia produtiva à qual está vinculada.
A indústria ainda pode incentivar e apoiar o desenvolvimento de políticas públicas que visem a consolidação de uma matriz energética mais limpa e sustentável.

Por que a modernização do setor elétrico é tão importante?
Os conceitos chave são: sobrevivência e competitividade.
A modernização é base ou alavanca para que todo o processo de transição energética possa ocorrer. As necessidades futuras da sociedade e das indústrias requerem a existência de um setor elétrico moderno, seguro, sustentável e confiável, com custos justos, permitindo a tão necessária condição de competitividade da indústria.
A adoção de tecnologias avançadas permite melhor eficiência operacional, confiabilidade e redução de perdas e desperdícios na transmissão e distribuição. Permite também transparência junto aos consumidores, com sistemas integrados com informações em tempo real e estimula um ambiente propício à inovação e pesquisa, gerando novas carreiras e empregos qualificados.
Além disso, contribui para a segurança energética, reduzindo a dependência de uma única fonte de energia e de efeitos de eventos naturais, e para a descentralização da geração.

O que podemos esperar e como o setor de gás natural deve avançar a partir do cumprimento da harmonização regulatória, estabelecida na Lei do Gás, a qual estabelece que os estados devem acompanhar o que foi definido em lei federal?
Fundamentalmente, um ambiente regulatório estável e previsível gera estabilidade. Dessa forma, a harmonização regulatória definida na Lei do Gás propiciará o avanço do setor com base em diretrizes e normas estabelecidas e mais transparentes, proporcionando benefícios ambientais, econômicos e energéticos.
Espera-se que esse ambiente mais previsível traga a segurança jurídica necessária para atrair mais investimentos de médio e longo prazos na infraestrutura do setor de gás natural, seja no transporte ou na distribuição. Como consequência, podemos ter a construção de gasodutos, terminais de regaseificação, unidades de recompressão e redes de distribuição com maior capilaridade e abrangência.
Também há um estímulo à concorrência no setor com a atração de novos players e, assim, maior oferta e preços mais competitivos da molécula e do transporte, proporcionando benefícios para todo o setor.
Esse ambiente expandido permitirá maior integração do território nacional com ampliação das oportunidades de acesso a novos consumidores e novos processos, com possibilidade de deslocamento do uso de combustíveis fósseis ou carvão por gás natural, menos poluente e mais limpo. O uso dos recursos oriundos de campos offshore deverá ser facilitado, assim como a integração desses com as malhas nos diferentes estados.

Qual a importância da ABRACE para os consumidores, para a indústria e para o desenvolvimento do setor energético?
A ABRACE vem atuando com muito sucesso nos últimos anos, sendo protagonista e visando a maior competitividade do setor energético.
Adaptada aos momentos, atua de forma estratégica com foco no desenvolvimento e modernização do setor, representando e defendendo os interesses dos consumidores do setor industrial junto às autoridades governamentais, reguladores e demais players do setor energético.
Essa atuação tem sido fundamental não só para garantir que as necessidades específicas da indústria sejam consideradas nas políticas energéticas e decisões regulatórias, mas também para o aumento da competitividade do país como um todo, uma vez que custos de insumos de fabricação mais baixos se refletem positivamente na redução dos preços dos produtos em geral no fim da cadeia.
Sem abandonar essas características de combatividade e capacitação técnica, a atuação da ABRACE no futuro próximo se dará de forma mais propositiva e colaborativa, agindo e influenciando em conjunto com os atores do setor que têm interesses comuns, visando unir esforços com propostas construtivas para a transição energética de forma sustentável e eficiente, com tarifas justas, transparência nos processos, previsibilidade, resultando num setor energético robusto, moderno, confiável e competitivo.

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