Entrevista com o Conselheiro José Alexandre

A indústria é figura essencial na transição energética, visto que a maior parte dos processos produtivos ainda utilizam combustíveis de origem fóssil. A substituição desses energéticos por alternativas sustentáveis é o elo que o setor industrial tem buscado construir visando o almejado netzero. Com a adoção dessas mudanças disruptivas, faz-se necessário um aprimoramento do arcabouço regulatório, a fim de assegurar a estabilidade ao mercado e aos consumidores. Na entrevista a seguir, José Alexandre de Morais, Diretor Industrial na Suzano e membro do Conselho da Abrace, conta sobre sua perspectiva para o futuro setor energético.

Qual o papel da indústria para a transição energética brasileira?
A indústria tem participação essencial no processo de transição energética, à medida em que grande maioria de processos industriais no mundo ainda tem conteúdo fóssil bastante elevado, o que contribui para manutenção das emissões de gases de efeito estufa. Medidas como a substituição de combustíveis fósseis por energéticos verdes em processos críticos e eletrificação de processos em segmentos “hard to abate” são desafios que a indústria do Brasil vêm enfrentando visando o “NetZero” em 2030.

Por que a modernização do setor elétrico é tão importante?
A cadeia de valor do setor elétrico mundial mudou acentuadamente nos últimos anos. O que antes era um processo contínuo Geração -> Transmissão -> Distribuição -> Consumo passou a ser um processo misto, onde consumidores geram sua própria energia em geração distribuída, concessionárias de distribuição tem que gerir esses novos entrantes na rede, a geração de grande porte teve que se reinventar de um perfil não renovável (Gás Natural, OC) para um perfil renovável e limpo (Eólica e solar), o que por um lado traz um balanço energético mais limpo, porém traz necessidade de gestão mais complexa da intermitência pelo Operador Nacional do Sistema.
Tais mudanças disruptivas acabam por trazer a necessidade de se modernizar o arcabouço regulatório no setor elétrico, de forma que se busque trazer ao consumidor final os benefícios intrínsecos dessas mudanças e ao mesmo tempo trazer estabilidade econômica aos demais agentes setoriais

O que podemos esperar e como o setor de gás natural deve avançar a partir do cumprimento da harmonização regulatória, estabelecida na Lei do Gás, a qual estabelece que os estados devem acompanhar o que foi definido em lei federal?
A harmonização regulatória no mercado de gás natural no Brasil, se aplicada efetivamente, deve trazer maior assertividade na tomada de decisão dos agentes econômicos do mercado e redução real dos custos de transação, dado que uniformiza as regras aplicáveis para o setor. Agentes consumidores que tenham, por exemplo, unidades industriais em vários Estados da Federação poderão avaliar de forma mais clara e otimizada os investimentos em expansão do seu parque fabril à medida que se tem regramento uniforme e consistente.

Qual a importância da ABRACE para os consumidores, para a indústria e para o desenvolvimento do setor energético?
A ABRACE representa grande parte da indústria, congregando os mais variados setores da economia nacional, e como tal, traz uma visão coerente dos anseios do setor industrial em relação à captura dos benefícios trazidos pelas mudanças positivas que vem ocorrendo no setor elétrico mundial e nacional, seja ele sob o ponto de vista de aumento de produtividade, redução de custos na cadeia de valor do setor elétrico ou mesmo sob o ponto de vista de sustentabilidade. Muitos dos grandes consumidores brasileiros competem em escala global e a absorção de menores custos via insumo tão relevante como os energéticos nos deixarão em condições muito melhores para competir em mercados cada vez mais restritivos.

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