Entrevista com o Conselheiro Daniel Marrocos

O Brasil tem um grande potencial de transição energética e a indústria nacional tem uma importante atribuição nesse sentido, uma vez que, além de contribuir por meio dos aprimoramentos dos processos produtivos, ela também é responsável por oferecer a matéria-prima e equipamentos necessários para a implementação das soluções de transição. Para fazer parte desse processo, é fundamental que a indústria esteja inserida em um ambiente de negócios favorável, o que inclui a competitividade do mercado de energia, a partir da modernização do setor elétrico e do cumprimento do dispositivo da Lei do Gás, por exemplo. A seguir, o Diretor de Energia da CBA e membro do Conselho Diretor, Daniel Marrocos, discorre sobre os desafios da indústria brasileira e o potencial do setor produtivo para colaborar com a transição energética.

Qual o papel da indústria para a transição energética brasileira?
A indústria terá papel fundamental ao produzir insumos como minérios, produtos acabados e equipamentos, que serão essenciais nas novas tecnologias aplicadas na transição energética. A crescente demanda por energia renovável e a eletrificação de processos vem provocando movimentos da indústria no sentido de garantir os insumos básicos de produção, bem como investimentos em P&D para novas aplicações que utilizam cada vez mais tecnologia de informação, automação e inteligência. As indústrias de base e de alta tecnologia deverão caminhar juntas para realizar a transição energética.
O Brasil sempre ocupou uma posição de destaque no cenário mundial no que diz respeito à hidroeletricidade, estando entre os países com maior capacidade hidrelétrica instalada.
Espera-se para os próximos anos uma transformação da matriz de produção, do transporte e uso da energia, reconhecida como a transição energética. E a indústria será a responsável por fornecer a matéria-prima e equipamentos necessários, como minerais e materiais metálicos, não-metálicos, plásticos e químicos, para realizar essa evolução sustentável da sociedade e da economia.
O alumínio e seus produtos acabados serão cada vez mais demandados para aplicação nas tecnologias de produção e uso da energia. As tecnologias de geração de energia eólica, solar e baterias são mais intensivas em alumínio do que suas predecessoras hidrelétricas e termelétricas, demonstrando sua relevância no processo de transição energética. Também devemos ter em mente que a indústria do alumínio é eletrointensiva. Para cada tonelada de alumínio produzida, são necessários aproximadamente 16MWh.
A CBA, que atua de forma integrada em toda a cadeia de produção, desde a primeira etapa do processo que é a conversão da bauxita em alumina até à refinaria, possui 21 usinas hidrelétricas e dois parques eólicos com capacidade de gerar aproximadamente 1,6GW que, considerando o fator de geração resultam em aproximadamente 760MW, para atender seu consumo. A empresa está no primeiro quartil da curva de custos e emissões por usar fontes renováveis. Essa, aliás, é uma característica da indústria do alumínio no Brasil. A demanda pelo metal tende a aumentar e a posição de liderança do País pelo uso de energia proveniente de fontes limpas pode se fortalecer com a transição energética. Empresas como a CBA tendem a ser beneficiadas, especialmente se houver no país um ambiente regulatório que estimule investimentos no setor. O investimento em matriz energética limpa e/ou em ESG de forma geral é fator essencial de competitividade para os negócios, além de ser uma agenda urgente e inadiável para o futuro do nosso planeta.

Por que a modernização do setor elétrico é tão importante?
A modernização do setor elétrico é essencial para adequar as condições de investimento e de mercado às novas tecnologias disponíveis e às necessidades da sociedade em que vivemos. O arcabouço legal e regulatório existe para manter o equilíbrio entre os interesses dos consumidores de energia, dos investidores do setor e dos demais stakeholders. Uma vez que as tecnologias existentes e demandas da sociedade evoluíram, também a regulamentação deve avançar. Adicionalmente, as preocupações crescentes com sustentabilidade, controle de emissões de gases do efeito estufa e com os problemas crescentes causados pelo aquecimento global fazem avançar o movimento global de eletrificação. Nesse sentido diversos equipamentos estão evoluindo para serem movidos majoritariamente a energia elétrica em substituição a outras fontes de energia, o que implica em um crescimento mundial da demanda por energia elétrica. Tal demanda deverá ser atendida, principalmente, por fontes renováveis, dentre as quais destacam-se as fontes hídrica, solar e eólica.
No Brasil, a partir do Plano Decenal de Expansão de Energia para 2030 (“PDE 2030”), da EPE – Empresa de Pesquisa Energética, entende-se que as energias renováveis detém grande participação na Matriz Energética Brasileira, em especial a fonte de geração hidrelétrica, responsável por mais de 60% do total.
A previsão para os próximos 10 anos evidencia uma maior diversificação, uma vez que as fontes de geração solar, em específico, devem ganhar relevância, com capacidade instalada adicional de 5332MW de geração centralizada, e de 18.823MW de geração distribuída, incremento de 170%% e 503% respectivamente, de 2020 para 2030.
Trata-se de uma ampliação natural considerando a disponibilidade das fontes eólica e solar no País e o baixo impacto ambiental provocado, com índices reduzidos de poluição.
A modernização do setor elétrico frente aos desafios mundiais de enfrentamento às mudanças climáticas deve procurar assegurar competitividade à indústria nacional para que se fortaleçam e sigam contribuindo para o crescimento e o desenvolvimento econômico do País.

O que podemos esperar e como o setor de gás natural deve avançar a partir do cumprimento da harmonização regulatória, estabelecida na Lei do Gás, a qual estabelece que os estados devem acompanhar o que foi definido em lei federal?
A Nova Lei do Gás Natural estabelece um novo marco para o setor produtor de gás no Brasil, com o objetivo de tornar o mercado mais aberto, dinâmico e competitivo, que leve à redução dos custos de produção e do preço final do insumo para o consumidor.
Essa harmonização das regulamentações estaduais com a lei federal vai justamente no sentido de viabilizar as diretrizes da Nova Lei de tornar o mercado mais competitivo, inovador, atraindo novos investidores, cujos resultados se revertam em benefícios para empresas e consumidor. É uma trajetória, um caminho que está sendo percorrido.

Qual a importância da ABRACE para os consumidores, para a indústria e para o desenvolvimento do setor energético?
O setor energético atende a uma grande indústria consumidora de energia, que está presente em todas as cadeias produtivas de bens e serviços da economia brasileira. A existência de uma entidade como a Abrace, com reconhecida competência técnica, possibilita enorme contribuição no entendimento e encaminhamento de questões junto a diferentes instâncias e órgãos públicos e privados, que viabilizem o desenvolvimento de um mercado forte e dinâmico.
A Abrace exerce papel na defesa de um setor energético eficiente, que se reflita em custos competitivos para os consumidores, essencial para manter a capacidade da indústria nacional competir localmente ou globalmente. Sem esse esforço e atuação em prol de energia competitiva, diversas indústrias, notadamente as grandes consumidoras de energia, não sobreviveriam.
Sendo assim, a atuação assertiva da entidade torna-se ainda mais importante para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas e seguir na trajetória de crescimento das empresas, do setor e da economia do País.

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