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Especial Transição Energética: conheça a experiência da Usiminas

O investimento em transição energética vai além de ações estritamente voltadas para o uso da energia elétrica. Esse processo envolve também o uso racional de água e outros recursos, além do aproveitamento de resíduos. Não é somente o setor produtivo que enxerga essas ações como prioritárias. A sociedade e o mercado de maneira geral já exigem das indústrias esse pensamento. Saiba mais sobre o tema em entrevista a seguir com José Ronaldo Silveira Junior, Gerente de Contratação de Energia e Vendas Especiais da Usiminas, Doutor em Engenharia Elétrica e membro do Conselho Diretor da ABRACE.

O que a Usiminas entende por transição energética, considerando seus projetos?

Quando falamos de transição energética, incluímos pensar de forma mais racional e consciente sobre a energia dentro do negócio, visando um consumo energético de baixo carbono. Isso indica trabalhar mais aspectos relacionados à eficiência energética, ao aproveitamento de recursos, além de abordarmos outros temas como resíduos e água. O contexto da transição energética é bastante genérico. Muito embora a palavra “energética” nos induza a pensar somente em energia, entendemos que esse contexto é mais amplo, incluindo por exemplo sustentabilidade ambiental e social.

Quais ações já foram iniciadas? 

Desde a década de 70 a Usiminas investe no aproveitamento de gases residuais de processos. Na indústria siderúrgica, esses gases são inerentes à produção e a reutilização nos permite produzir em torno de 25% da energia elétrica e 100% do vapor que precisamos. Pensando em outros recursos, em torno de 95% da água que utilizamos é recirculada internamente. Com isso, evitamos a captação de água de rios próximos às localidades das nossas plantas. Além disso, em torno de 96% dos resíduos que geramos são aproveitados de alguma forma ou, ainda, comercializados. Outra ação que deve se iniciar a partir de 2025 é a produção de energia solar por meio de um parque de geração fotovoltaica, em uma parceria com a Canadian Solar. O empreendimento vai entregar o equivalente a 30MW médios, ou seja, por volta de 12% do consumo da Usiminas.

Qual o planejamento para o futuro em relação às ações que promovem e visam contribuir com a transição energética?

Para o futuro, pensamos em expandir o nosso portfólio com a contratação de energia renovável, como o projeto de parque solar que comentei anteriormente. Isso vai resultar em um ganho em termos de emissões para o sistema energético como um todo e, especificamente, em relação às emissões da Usiminas. Estamos continuamente buscando novas opções, seja para o suprimento energético, considerando fontes mais limpas e renováveis, ou para a comercialização e aproveitamento dos resíduos.

Você acredita que o setor produtivo brasileiro já prioriza esse viés da sustentabilidade?

A nossa percepção é que, de uma forma geral, o setor produtivo prioriza esses temas voltados para a sustentabilidade, uma vez que ações desse tipo são percebidas em divulgações de diversos segmentos. Também percebemos clientes e fornecedores envolvidos nesse tema e interagindo frequentemente conosco para entender as ações de cada um. Além disso, mesmo que a indústria não buscasse ativamente essa tendência, os próprios mercados e a sociedade estão exigindo isso.

Com relação ao ambiente internacional, você entende que o Brasil está em um bom patamar de investimentos em transição energética? Ou ainda tem muito a avançar?

Quando olhamos a posição do Brasil em relação aos outros países, podemos dizer que temos uma virtude muito grande disponível que é a nossa matriz energética. Contudo, essa vantagem precisa ser sempre explorada e investimentos são necessários. Nesse sentido, a indústria é a válvula impulsionadora para esse tipo de avanço. Por um motivo muito simples – o consumo industrial é muito grande, então ele consegue estimular isso mais do que outros segmentos. Voltado a esse aspecto, é muito importante que o crescimento econômico e o controle inflacionário sejam adequados para permitir o incentivo ao crescimento da indústria.

Acredita que o Brasil utiliza todo o potencial que tem para promover a transição energética?

O Brasil é um país de dimensões continentais, ou seja, temos potenciais diversos em vários segmentos. Quando pensamos em transição energética e em uma economia de baixo carbono no Brasil, precisamos de investimentos e mudanças em áreas como transporte, uso do solo e aproveitamento de resíduos. Não adianta pensar em transição energética somente no aspecto da energia elétrica propriamente dita, temos que pensar na energia em um contexto geral, considerando os diversos segmentos e as características do País.

Voltando ao setor produtivo brasileiro. O investimento realizado pelas indústrias é revertido em diferencial competitivo? Ou é uma tendência que está sendo seguida por todas (ou maioria) e vai gerar um impacto neutro nos negócios?

O investimento realizado é, de fato, revertido em diferencial competitivo. Um exemplo é o aproveitamento de gases residuais nos processos que eu comentei anteriormente. Essa ação faz com que não seja necessária a compra de gás natural, um combustível fóssil extremamente caro aqui no Brasil, por exemplo. Além disso, quando pensamos em contratação de energia, especialmente no contexto atual, consideramos as fontes renováveis e o impacto em termos de emissões é avaliado. Vale destacar também a preocupação da Usiminas e de outras empresas em relação aos impactos que elas têm nas comunidades vizinhas. Esse movimento circunda a sustentabilidade do próprio negócio e leva em conta os aspectos social, econômico e energético.

Qual a importância da regulamentação do Mercado de Carbono no Brasil?

Acredito que esse projeto de lei para regulamentar o mercado de carbono no Brasil traz mais dúvidas do que certezas, nesse momento. Isso porque ele deixa alguns pontos em aberto, como por exemplo de que maneira serão realizadas a compra e a venda dos créditos de carbono dentro do território nacional. Então, existem alguns aspectos, principalmente os comerciais, que ainda não estão claros o suficiente. De toda forma, como não temos praticamente nada, a partir do momento que tivermos uma regulamentação que estruture esse mercado, acreditamos que isso vai representar um passo importante no sentido de avançar com priorizações e trabalhos voltados para a transição energética do País como um todo.

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