Especial Transição Energética: conheça a experiência da Votorantim Cimentos

Olhar para o futuro, mas começar a agir agora é o que a indústria brasileira tem feito quando o assunto é transição energética. A busca por uma produção carbono zero é uma força motriz de incentivo aos investimentos em eficiência energética, em energia renovável e na substituição de combustíveis fósseis por resíduos. Além disso, alinhar o Brasil ao mercado externo com a regulação do mercado de carbono, por exemplo, pode ser um importante fator de contribuição para a competitividade do setor produtivo brasileiro. Esses são alguns dos temas que Fabio Cirilo, gerente de Sustentabilidade e Energia na Votorantim Cimentos, trouxe nesta edição do Especial Transição Energética ABRACE. Confira a seguir a entrevista completa.

O que a Votorantim Cimentos entende por transição energética, considerando seus projetos?

A Transição Energética é um tema muito importante para a Votorantim Cimentos. Essa pauta tem tudo a ver com a nossa agenda de descarbonização. Somos uma indústria que tem uma intensidade de consumo de energia, tanto térmica quanto elétrica. Para nós, transição energética significa diminuir o uso de combustíveis fósseis. Caminhamos em uma lógica de buscar a eficiência máxima nos processos, substituindo o consumo elétrico em busca de uma matriz cada vez mais renovável. No caso dos combustíveis, trabalhamos para a substituição do combustível fóssil por combustíveis alternativos. Nós sabemos que nessa agenda de descarbonização da indústria do cimento teremos uma demanda cada vez maior por eletricidade, seja por mover alguns processos térmicos para elétricos como uma forma de reduzir emissão, seja pelo tipo de tecnologia que vamos ter que usar. 

Quais ações já foram iniciadas?

Hoje, a Votorantim Cimentos tem cerca de 30% de todo o consumo elétrico no Brasil proveniente de fontes renováveis, em grande parte hidrelétricas. Em 2023 entrará em operação um parque eólico em parceria com a Auren, adicionando mais 55 MegaWatt médios de energia renovável ao nosso portfólio. Isso deve levar a nossa fração de energia renovável aqui no Brasil para cerca de 50%. Além disso, nos onze países onde operamos, temos iniciativas relacionadas à transição energética. A nossa meta é que, até 2030, 45% da nossa energia consumida globalmente seja de fonte renovável. Outro ponto importante é quando falamos da parte térmica e do volume de combustível que usamos. Uma grande alavanca para esse processo é o coprocessamento, uma forma de transformar em combustível resíduos industriais, resíduos sólidos urbanos, resíduos de biomassa, pneu no fim de vida e uma série de materiais que iriam parar num aterro. Esses materiais têm capacidade de serem aproveitados energeticamente nos fornos, reduzindo o volume de combustível fóssil que consumimos. Hoje, globalmente, 22% de todo o combustível que usamos para operar os fornos de cimento vem de algum tipo de resíduo. Em 2021, aqui no Brasil, cerca de 1 milhão de toneladas de resíduos foram eliminados nos fornos de cimento, o que nos ajudou a reduzir 830 mil toneladas de CO2 anualmente.

Qual o planejamento para o futuro em relação às ações que promovem e visam contribuir com a transição energética?

Em 2020 fizemos um exercício para definir as nossas metas até 2030. Temos um desafio grande como setor de cimento, principalmente relacionado à mudança climática. Mas as metas vão além, falam de diversidade, de inclusão, de saúde e segurança, de comunidades e, claro, toda a parte de energia renovável, de redução de emissão de gases de efeito estufa, de economia circular. Nesse sentido, trabalhamos em uma busca constante por aumentar a eficiência com que usamos a energia, investindo em nosso portfólio de renovável e nos índices de coprocessamento. Até 2030, temos o compromisso de atingir 53% de toda a energia térmica que consumimos vinda de resíduos. Mais a longo prazo, até 2050, queremos entregar um concreto carbono zero para a sociedade. Quando falamos desse compromisso, levamos em consideração estudo da Associação Global de Cimento e Concreto (GCCA) e da Agência Internacional de Energia (AIE) que nos mostra o caminho para alcançar o carbono zero até 2050. Até 2030 fala-se na substituição do combustível fóssil, na eficiência energética, na substituição de clínquer, ou seja, ter um cimento que usa cada vez mais matérias primas alternativas, que reduzem o impacto. A partir de 2030 entramos em uma agenda um pouco mais disruptiva, com o uso de hidrogênio, captura e sequestro de carbono.

Você acredita que o setor produtivo brasileiro já prioriza esse viés da sustentabilidade?

Entendemos que sim. Claro que temos a oportunidade de avançar. O Brasil tem essa vocação, temos a maior biodiversidade do mundo, uma grande extensão de área e um potencial de geração eólica e solar inigualável. O País está despontando nessa frente, com a agenda de sustentabilidade crescente que é um diferencial competitivo para o Brasil. Se compararmos o mesmo produto produzido no Brasil com um produto em um outro país mais dependente de combustível fóssil, o produto brasileiro tem um diferencial competitivo e, na medida em que a questão da precificação de carbono avance no mundo, as empresas do Brasil vão ter uma competitividade inerente ao seu processo. Outro fato que está avançando bastante é a demanda dos consumidores finais por sustentabilidade, por certificações de prédios, selos de sustentabilidade. Essa é uma provocação super positiva para que a indústria continue avançando. Na verdade, estamos sempre falando de ter um produto e um processo mais sustentáveis, ao mesmo tempo em que aumentamos a nossa competitividade e a nossa atratividade para os clientes.

Qual é o potencial do Brasil para promover a transição energética?

O Brasil vem avançando rápido. Se olharmos a participação da energia eólica e solar na matriz energética, percebemos que ela vem crescendo de uma forma bastante acelerada e tende a continuar dessa forma nos próximos anos. Atrelado a isso está o custo de operação, que é muito mais baixo do que as térmicas. O Brasil tem um potencial grande a ser explorado e acreditamos que essa agenda vai avançar. Hoje, algumas empresas estão estudando, por exemplo, o hidrogênio verde, que pode ser uma forma de armazenar e exportar energia renovável para outros países que talvez não tenham uma capacidade tão grande quanto o Brasil de geração de energia limpa. Uma outra agenda que falta, comparado com outros países, é a questão de eficiência energética. Temos algumas boas iniciativas nessa agenda, mas ainda temos um índice de desperdício grande de energia, tanto de distribuição quanto no uso dos equipamentos.

Voltando ao setor produtivo brasileiro. O investimento realizado pelas indústrias é revertido em diferencial competitivo?

Nós vemos a agenda de sustentabilidade como uma agenda de competitividade, ou seja, o investimento gera um impacto direto nos negócios. Quando falamos, por exemplo, de aumentar a nossa matriz solar e eólica, estamos falando em reduzir custos, em usar as fontes que têm o menor custo de geração. Em um cenário onde há a precificação de carbono, a substituição de combustíveis fósseis também gera um impacto positivo para os negócios, uma vez que as fontes renováveis se tornam mais competitivas. Outro ponto que vale mencionar é a questão da previsibilidade, principalmente em um cenário de mudanças climáticas, no qual a tendência é vermos cada vez mais crises hídricas. Por termos uma matriz muito dependente da capacidade de armazenar água nos reservatórios, os preços de energia sofrem uma volatilidade muito alta. Dessa forma, ter uma matriz que depende um pouco mais de energia solar e eólica, especialmente, também nos ajuda a ter uma maior previsibilidade de preços e ser menos afetado por esses cenários.

Qual a importância da regulamentação do Mercado de Carbono no Brasil?

O carbono tem um custo para a sociedade que, hoje, não está contabilizado no emissor. O mercado de carbono tende a corrigir essa distorção e trazer mais competitividade para as tecnologias mais limpas. Quando olhamos para mercados mais maduros, onde nós já operamos dentro de mecanismos de precificação de carbono, percebemos como ele é uma alavanca importante para viabilizar iniciativas de descarbonização e como afeta a competitividade do setor. Nesse cenário, ser a empresa com a menor emissão significa também ser a empresa mais competitiva.  O Brasil tende a ganhar com a precificação de carbono e o alinhamento aos mercados globais porque a capacidade que temos de descarbonizar a indústria e a economia será visto como um diferencial competitivo. Hoje, nós temos um mecanismo dentro da Votorantim Cimentos que chamamos de preço interno de carbono. Todo investimento em um novo projeto considera um cenário com precificação de carbono. O objetivo é garantir que os nossos novos investimentos estejam alinhados à nossa agenda de descarbonização e acelerar iniciativas que irão nos ajudar a entregar nossos compromissos de sustentabilidade.

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